Tuesday, August 19, 2014

Rebeca Gusmão diz ter gastado R$ 500 mil para tentar provar inocência no caso de doping


Em conversa com o Correio, ex-nadadora admite ter naufragado na depressão, mas diz já estar curada

De visual novo, a nadadora segue polêmica: "Notícia sobre mim vende igual águal".


Profissionalmente, ela está afastada das piscinas desde 2007, quando foi suspensa e acusada de se dopar para competir. Mesmo assim, o nome de Rebeca Gusmão, 29 anos, ainda tem força. Há um mês, a ex-nadadora virou notícia porque parou no hospital, com pneumonia. Nesta semana, foi acusada por um médico de ter dado um golpe para pagar um implante de 495ml de silicone nos seios. Rebeca leva uma vida “normal”, como ela define, mas continua a despertar atenção, não importa o motivo. “Notícia sobre mim vende igual água”, ela diz.

Sete anos depois, o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) ainda não fechou o processo. Mas, no Brasil, Rebeca pode competir. E diz até que poderia voltar a ser um dos nomes mais populares da natação: “Fui uma das melhores do mundo”. Nadar, hoje, só como terapia. E justamente o esporte que abalou a vida de Rebeca ajudou a medalhista de ouro no Pan de 2007 a sair de uma grave depressão.

Funcionária da Secretaria de Esporte, Rebeca Gusmão faz outros trabalhos fora do GDF. É modelo e, recentemente, começou a dar palestras motivacionais. Afinal, ela diz ter gastado, até agora, cerca de R$ 500 mil para tentar provar inocência no caso de doping. De visual e aparência física renovados, Rebeca admite ser polêmica. Mas jura: “Sou um doce de pessoa”.


Qual a origem da sua depressão?
Quando você é atleta de alto rendimento, tem predisposição a passar por isso. Um atleta tem muitos altos e baixos, principalmente o brasileiro. A gente vive de resultado e não temos muito apoio. Se tem uma lesão, perde patrocínio. Às vezes, passa um ano treinando para uma competição e não consegue o resultado. Isso frustra. Eu tive duas situações consideradas graves. Eu perdi o que eu fazia, a minha profissão, que era nadar. Imagina a pessoa perder o emprego. Imagina logo depois entrar em crise no casamento e se separar. Entrei em depressão no fim de 2007 e, em função de ser casada, não entrei em nenhuma crise. Tive minha primeira crise mesmo no ano passado, quando perdi 30 quilos e dei inicio ao tratamento. Foi o ano mais difícil da minha vida.

Que tipo de acompanhamento você faz?
Vou ao psiquiatra todos os meses. E também vou ao psicólogo duas vezes por semana, ou a cada 15 dias. Depende da minha condição. Hoje, estou bem.

O que aconteceu há um mês, quando você foi parar no hospital?
Eu tive pneumonia e fiquei internada. Perdi muito peso. Eu vivo do meu corpo, sou uma atleta, isso me baqueia. Tenho de tomar um pouco de cuidado.

Sua vida esportiva ainda é intensa?
Não tem sido minha prioridade. Faço musculação, de vez em quando eu nado, jogo futebol. Sou formada em educação física, e pessoas me procuram para que seja personal trainer. Muita gente com depressão me procura.

E a natação?
Foi uma das recomendações do meu médico, que eu voltasse a fazer exercícios. E, por incrível que pareça, escolhi a natação. Um dos motivos da minha depressão foi a natação, e o que está me tirando dela é a natação.

Seu peso variou muito nos últimos anos?
Bastante. Eu pesava 80kg em 2007. Quando parei de nadar, cheguei aos 104kg. Na minha crise de depressão, pesei 64kg. Agora, estou com 71kg.




Pelas redes sociais, vê-se que você sai bastante à noite. Tem recuperado o tempo perdido?
Claro que eu saio, tenho vida de uma pessoa normal, encontro com meus amigos, vou a restaurantes, cinema, boates, festas. Estou nessa vida normal. É muito das fases também, fiquei internada um tempo e estou em processo de recuperação.

As pessoas se preocupam muito quando uma notícia de que você está no hospital é publicada,mesmo que seja uma gripe...
 Vivo muito o céu e o inferno ao mesmo tempo. Mas também sinto um carinho muito grande das pessoas, da própria mídia, embora a mídia tenha sido um pouco responsável pela minha condenação. Abro minha página no Facebook e vejo que, em um mês, 30 mil pessoas passaram a me acompanhar, a me mandar mensagens. Se sai uma notícia sobre mim, vende igual água. Meu nome é muito forte. Hoje (ontem) foi uma pessoa lá em casa, que eu nunca vi na vida, me levar um presente. Acabo perdendo um pouco da privacidade, ainda mais quando se trata de uma doença.

Por que seu nome ainda desperta interesse?
Sempre fui muito fechada em relação à minha vida particular. Há uma dúvida muito grande. “A Rebeca deve ser arrogante, metida, completamente fechada”, as pessoas devem pensar. Mas quem me conhece sabe que sou um doce de pessoa. Quem não me conhecia falava que eu só tenho tamanho. E eu sou uma pessoa sensível, me preocupo com as outras pessoas, deixo de resolver minhas coisas para resolver os problemas dos outros. Queria muito que as pessoas me vissem no dia a dia para saber como é a Rebeca.

Disseram que você já está confirmada na próxima edição do reality show A fazenda.
Não estou sabendo de nada, não. Só tem especulação. Mas acho que seria legal, uma oportunidade de as pessoas me conhecerem. A pessoa que é formada em teatro sabe atuar. Eu, que não tenho um curso desse, não sei. Então eu seria verdadeira.

Seu processo sobre doping, no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), ainda não foi finalizado. Você tem vontade de voltar a competir?
O julgamento ainda está correndo na Suíça. No Brasil, fui absolvida na esfera esportiva. Se hoje eu quisesse competir com uma liminar, eu poderia. É um julgamento mais lento agora, e não é um processo barato. Já gastei quase R$ 500 mil com advogado, com passagem de testemunha para o Canadá, para a Suíça. A Justiça tarda, mas não falha.

Então você não faz isso porque ainda quer competir...
De forma alguma. Antes eu tivesse sido culpada, pedido desculpas. Eu não teria sido banida se isso acontecesse. Para mim seria muito mais fácil. Mas o que quero provar é que o sistema é falho. Aos poucos vamos vendo atletas que foram pegos com a mesma substância que me acusam ter usado, e o médico que me condenou usou o mesmo argumento usado na minha defesa e não puniu os atletas. Vemos que as pessoas têm memória curta. Quem bate esquece, quem apanha não esquece.

Que esportistas estiveram ao seu lado quando surgiu a acusação de doping?
Eu sempre soube escolher muito bem minhas amizades no esporte. Quando se pratica um esporte individual, é muito difícil conseguir fazer amizade. Tenho uma admiração enorme pela (ex-nadadora) Mariana Brochado, ela foi minha amiga o tempo inteiro. Mas minhas amizades no esporte sempre foram de outras modalidades. Como a Fabi, do vôlei, a Robertinha, que trabalha com o Bernardinho (com estatísticas), a Flávia, do polo.

A depressão fez você ter vontade de se machucar?
A depressão faz isso. Você pensa, sim, porque é uma doença que deixa você sem nenhum sentimento. Você não consegue sentir amor pela pessoa que está do seu lado, por um familiar, um amigo, e isso incomoda. Nunca tentei... Mas pensei nisso várias vezes. Posso até ter tentado inconscientemente.

O que houve exatamente na história que circulou há pouco tempo, de um médico acusando você de ter roubado dinheiro dele para aplicar silicone nos seios?
Sempre vai existir alguém que queira me prejudicar, gente querendo tirar proveito. Imagine se todo problema pessoal de todo mundo fosse parar na mídia? É o que falo para todo mundo, quem é conhecido não vai fazer coisa errada. Quando alguém não tem nome e acusa uma pessoa que tem, a mídia vai para cima dela. O que vai vender é o que a Rebeca Gusmão fez.

Você tinha o projeto de uma autobiografia, não é?
Já comecei a escrever o livro. É engraçado, o título é Gigante pela própria natureza, mas eu brinco que vou mudar para História sem fim. Sempre aparece um capítulo novo na minha vida. No livro, vou contar tudo, vou abrir tudo.

E já tem um final feliz?
Vejo que é difícil ter um final feliz, pode ter vários. Mas não tenho como dar um ponto final na minha história, apenas reticências.

Saiba mais

Doping positivo em 2007
Em 2007, exames atestaram a presença de anabolizantes esteroides na corrente sanguínea de Rebeca Gusmão. A ex-nadadora alega que o frasco com a urina foi trocado para prejudicá-la. Rebeca perdeu as quatro medalhas que conquistou no Pan daquele ano, no Rio, e foi suspensa do esporte por dois anos (2008-2010) pela Federação Internacional de Natação (Fina). Em outro processo, ela foi absolvida pela Justiça brasileira da acusação de falsidade ideológica — foi acusada de trocar frascos. Até hoje, Rebeca aguarda a decisão final do Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) sobre o banimento do esporte.

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